O tema vertigem e queda em idosos voltou à mídia e ao cotidiano da especialidade após um ano da série de atendimentos que originaram uma completa pesquisa que traça o perfil do idoso com tontura no Brasil. Por isso, publicamos aqui no site a pesquisa completa para você, otorrino, com 15 gráficos completos, que mostram as mais diversas características do idoso com tontura e problemas de vertigem.

Idoso entre 60 e 65 anos tem maior prevalência de tonturas



A Sociedade Brasileira de Otologia (SBO) organizou no dia 27 de setembro de 2008 o "Dia de atendimento ao idoso com tontura", como parte da Campanha de Prevenção às Quedas na Terceira Idade, coordenada pelos otorrinos Dr. Fernando Ganança, Dra. Raquel Mezzalira e pelo presidente da SBO, Dr. Oswaldo Laércio Cruz.

Esta campanha, de abrangência nacional, teve como objetivos principais aumentar o conhecimento do público em geral sobre os problemas relacionados às quedas na terceira idade, incentivar a procura de atendimento otorrinolaringológico pelos idosos que apresentam tontura e/ou histórico de quedas, encaminhar os pacientes vestibulopatas para investigação diagnóstica e tratamento, fornecer informações sobre prevenção de quedas, além de levantar dados epidemiológicos para avaliar ocorrência de afecções vestibulares, quedas no passado, risco de quedas no futuro, entre outros dados sócio-demográficos e clínicos.

Esta campanha contou com a participação de diversos serviços de Otorrinolaringologia distribuídos em 10 estados do Brasil, listados a seguir em ordem alfabética: Bahia, Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, São Paulo.

Foram atendidos 323 idosos com tontura. A seguir, veja os resultados obtidos na aplicação do questionário de avaliação dos dados de sócio-demográficos e clínicos elaborados pela SBO de acordo com as respostas em cada tópico.

Faixa etária e prevalência


A população de idosos com tontura foi constituída em sua maioria por indivíduos do gênero feminino (74,9%) e que apresentava predominância de sujeitos na faixa etária de 65 a 74 anos (Gráfico 1). O estado civil e o nível de escolaridade dos mesmos encontram-se ilustrados nos Gráficos 2 e 3, respectivamente. A maioria dos pacientes apresentava primário incompleto (42%) ou primário completo (26.9%).

Ao exame físico, 95,4% dos pacientes apresentaram otoscopia normal bilateralmente, 96,8% teste de Romberg normal com olhos abertos, 88,2% teste de Romberg normal com olhos fechados, marcha normal em 87,0%, provas cerebelares normais em 96,0% e 58,8% hipótese diagnóstica de tontura de origem vestibular.

A maioria dos idosos apresentou tontura com duração maior que três anos (Gráfico 4). Cerca de 70,0% dos idosos apresentaram tontura rotatória (vertigem) e 52,0% não rotatória. A distribuição do tipo de tontura não rotatória encontra-se ilustrada no Gráfico 5. A maior parte das tonturas rotatórias e não rotatórias apresentou duração de segundos ou minutos (Gráfico 6). Cerca de 33,0% das tonturas rotatórias e 35,0% das tonturas não rotatórias apresentaram periodicidade diária (Gráfico 7). A classificação quanto à auto-percepção da intensidade da tontura verificada à aplicação da escala analógica no momento da entrevista encontra-se no Gráfico 8. Importante salientar que 63,9% dos pacientes apresentava tontura com intensidade igual ou maior a 5.

As doenças referidas pelos idosos e sua distribuição estão descritas no Gráfico 12, sendo que a hipertensão arterial e as alterações visuais foram as comorbidades mais presentes nesta amostragem. Aproximadamente 26,0% dos idosos com tontura relataram cinco ou mais doenças (não vestibulares). Cerca de 17,0% deles faziam uso de cinco ou mais medicamentos. Aproximadamente 60,0% dos idosos com tontura disseram praticar alguma atividade física três ou mais vezes por semana, por mais de 30 minutos, e 6,6% utilizavam dispositivos de auxílio à marcha. Aproximadamente 29,0% dos idosos relataram antecedentes de fratura e cerca de 17,0% de hospitalização no último ano.

Queda foi referida por 51,5% dos idosos com tontura, sendo que em aproximadamente metade deles este evento ocorreu de forma recorrente (duas ou mais quedas). Dos idosos que sofreram quedas, 44% relataram parar de se exercitar após a (s) queda(s).

As circunstâncias relacionadas ao aparecimento das quedas encontram-se descritas no Gráfico 13 sendo que o tropeço e o escorregamento foram responsáveis por 50% das quedas, indicando que medidas preventivas podem ter grande impacto na prevenção de quedas. Quase metade das quedas ocorreu na própria residência dos idosos (ambientes interno e externo), como mostra o Gráfico 14 e mais da metade destas, pela manhã (Gráfico 15).

Comentários finais


Os idosos atendidos nesta campanha apresentaram, em sua maioria, tontura rotatória, de intensidade moderada a acentuada, de provável origem vestibular, com duração superior a três anos, que apareceu ou piorou à movimentação da cabeça e/ou do corpo, associada à tontura não rotatória. Caracterizaram-se por maioria feminina, sem vida conjugal, com nível educacional baixo, outras manifestações otoneurologicas, outras doenças não vestibulares e quedas. As quedas ocorreram em sua maioria no período da manhã, fora do domicílio, por tropeço ou escorregamento e provocaram restrição das atividades do dia a dia em grande parte dos idosos com tontura.

Os dados sócio-demográficos e clínicos obtidos nesta campanha podem contribuir para um melhor conhecimento dos idosos com tontura que procuram o otorrinolaringologista e que é preciso estar preparado para atender às suas necessidades de tratamento e prevenção no que se refere à tontura e queda(s).

Vale ressaltar e agradecer a valiosa participação nesta pesquisa dos seguintes colegas, listados em ordem alfabética:

Angela Rubia Oliveira, Alexandre Augusto K. Palombo, Alexandre Scalli Duarte, Amanda Nunes Rodriguez, Amanda Huimes Rodrigues, Ana Laura Vargas, Alexandre Duarte, Alexandre Augusto Kroskinsque Palombo, Ana Paula Serra, Anna Paula Batista de Ávila Pires, Bruno Thieme Lima, Carina Gambale, Carolina Cumani Toledo, Clara Rezende Silveira, Cecília Maria Stroppa Faquim, Daniel Nogueira Cruz, Douglas Moretti, Eder Muranaka, Ediane Oliveira, Eduarley Max Santos da Silva, Élcio Hirai Roldan, Erica K Nakamura, Erica Mayumi Ito, Expedito de Almeida Soares, Fernando Alliegro, Fernando Freitas Ganança, Francisco Carlos Zuma e Maia, Geórgia Patrícia N. P. Freitas, Guita Stoler, Gustavo Tanaka, Israel Leonardo Ferreira de Lima, James Edward Slusser, Jamile de Nazaré Pereira, Jeronymo Enéas Mescolin, João Paulo Valente, Jose Diniz Junior, Jose Emidio de Brito Freire Júnior, Juliana Leroy Gonçalves Pinheiro, Juliana Alves de Sousa Caixeta, Karen Lopes de Carvalho, Leonardo Rolla, Leonardo Bernardes de Araújo, Licieri Marotta, Lívio Martins Teixeira, Luiz Antônio da Silva Freire, Marcelo Naoki Soki, Marcia Maria do Carmo Bilécki, Maria Angélica, Maria Fernanda Bessa Peres, Maria do Socorro da Silva Ribamar, Marisa de Lemos, Melina Munqueira Domingues, Milena Tessari Grandi, Natalia Fernandez, Natália Mello do Vale, Nassib Kassis Filho, Noemia Maria Barreto de Lima, Norimar H Dias, Olga Emilia, Onivaldo Bretan, Pablo Soares Gomes Pereira, Paulo Marsiglio, Pedro Demeneghi, Rafael Ferreira Pacheco Cabral, Raimundo Edson Amuedo, Raquel Mezzalira, Renata Chade Aidar, Renata Dias Arruda, Ricardo S. Dorigueto, Roberta Miwa Jomori, Sandro Torres, Sergio Henrique de Medeiros, Stênio Silva, Tatiana Maria Pereira Fernandes, Tatiane Neves, Thiago Ferreira, Thiago Villela Bolzan, Vanessa Coutinho Ribeiro, Victor César de Souza Valle, Vivian de Carvalho Santos, William Francisco Firmino Firmo, Wilson da Silva Machado e Wilson Gama Junior.

Trabalho coordenado e escrito por Fernando F. Ganança, Raquel Mezzalira e Oswaldo Laércio M. Cruz.

Gráficos